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O homem do malabarismo

O homem do malabarismo
Bárbara A. A. Queiroz
mai. 26 - 2 min de leitura
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Tinha tudo pra ser uma sexta qualquer, mas não foi. A avenida imensa, gritando sons pelos concretos dos prédios, berrando ruídos pelo asfalto sujo e grosso e quente. Os edifícios espelhados, pichados, rachados, gigantes. As lojas cheias de vendedores, de compradores, de produtos. Os carros num frenesi já conhecido, mas não menos desgastante, as motocicletas esgoelando buzinas agudas e incômodas, os ônibus abarrotados de gente esgotada, de gente afobada, de gente apática, de gente.  

Passei por muitas pessoas, e muitas pessoas passaram por mim. Em certo ponto do caminho, me deparei com um morador de rua. O sol se preparava para entrar, mas não havia brilhado muito. Uma brisa gélida tomou conta do ambiente. Era junho, sempre faz frio em junho. Atravessei para o outro lado da avenida, passando por outras pessoas, e outras pessoas passaram novamente por mim. O homem ainda se encontrava no mesmo lugar. Era um morador de rua, iria para onde afinal? 

Entrei num estabelecimento, comprei um lanche, e ele continuava ali. Era um artista. Por vocação, e precisão. Fazendo malabarismo na calçada, o homem se virara. Para manter as bolas no ar, e para se manter vivo. Ganhou uns trocados, juntou com as moedas que já tinha, e comprou um suco. Contou mais algumas pratinhas pro salgado, mas não foi suficiente. Saiu da lanchonete, jogou as bolas pro alto mais algumas vezes, ganhou o encanto e um salgado de um cliente. Agradeceu, se afastou do palco particular e saiu de cena com um sorriso no rosto, e um salgado na mão. 

Deixei a avenida com seus moradores nômades e fixos, com suas edificações enormes e sua empatia minúscula. Fiquei pensando nas injustiças da vida. Minha mãe sempre diz que tem gente que queria ter a vida da gente. Imaginei a vida daquele homem. O que era, o que poderia ter sido. Na saída, dei um dinheiro pro artista, que me agradeceu com um sorriso dizendo "que Deus te dê em dobro moça, vai com Deus". Naquela sexta, na hora de dormir, rezei pedindo pra que Deus, em vez de vir comigo, tenha ficado fazendo companhia pro homem do malabarismo.

 

 

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